segunda-feira, 24 de agosto de 2020

Quando a escola é de vidro

 


Ruth Rocha

  

Naquele tempo eu até que achava natural que as coisas fossem desse jeito. 

Eu nem desconfiava que é existissem lugares muito diferentes...

Eu ia para a escola todos os dias de manhã e quando chegava, logo, logo, eu tinha que me meter no vidro. 

É, no vidro! 

Cada menino ou menina tinha um vidro e o vidro não dependia do tamanho de cada um, não! 

O vidro dependia da classe em que a gente estudava. 

Se você estava no primeiro ano ganhava um vidro de um tamanho. 

Se você fosse do segundo ano seu vidro era um pouquinho maior. 

E assim, os vidros iam crescendo à medida que você ia passando de ano. 

Se não passava de ano era um horror.

Você tinha que usar o mesmo vidro do ano passado! 

Coubesse ou não coubesse. 

Aliás nunca ninguém se preocupou em saber se a gente cabia nos vidros. 

E pra falar a verdade, ninguém cabia direito. 

Uns eram muito gordos, outros eram muito grandes, uns eram pequenos e ficavam afundados no vidro, nem assim era confortável. 

Os muitos altos de repente se esticavam e as tampas dos vidros soltavam longe, as vezes até batiam no professor. 

Ele ficava louco da vida atarraxava a tampa com força, que era pra não sair mais. 

A gente não escutava direito o que os professores diziam, os professores não entendiam o que a gente falava... 

As meninas ganhavam uns vidros menores que os meninos. 

Ninguém queria saber se elas estavam crescendo depressa, se não cabiam nos vidros, se respirava direto... 

A gente só podia respirar direito na hora do recreio ou na sala de educação física. 

Mais ai a gente já estava desesperado, de tanto ficar preso e começava a correr, a gritar, a bater uns nos outros. 

As meninas coitadas, nem tiravam os vidros no recreio. E na aula de educação física elas ficavam atrapalhadas, não estavam acostumadas a ficarem livres, não tinham jeito nenhum para educação física. 

Dizem, nem sei se é verdade que muitas meninas usavam vidros até em casa. 

Alguns meninos também. 

Estes eram os mais tristes de todos. 

Nunca sabiam inventar brincadeiras, não davam risada atoa, uma tristeza! 

Se a gente reclamava? 

Alguns reclamavam. 

Então os grandes diziam que sempre tinha sido assim e ia ser assim o resto da vida. 

A minha professora dizia que ela sempre tinha usado vidro, até pra dormir, por isso é que ela tinha boa postura. 

Uma vez um cologa meu disse pra professora que existe lugares onde as escolas não usavam vidro nenhum, e as crianças podem crescer a vontade. 

Então a professora respondeu que era mentira. Que isso era conversa de comunista. Ou até coisa pior... 

Tinha menino que tinha até que sair da escola porque não havia jeito de se acomodar nos vidros. E tinha uns que mesmo quando saiam dos vidros ficavam do mesmo jeitinho, meio encolhidos, como se estivessem tão acostumados que estranhava sair dos vidros. 

Mas uma vez veio para minha escola um menino, que parece que era favela do, carente, essas coisas que as pessoas dizem pra não dizer que era pobre. 

Não tinha vidro pra botar esse menino. 

Então os professores acharam que não fazia mal não, já que ele não pagava a escola mesmo... 

Então o Firuli, ele se chamava Firuli, começou a assistir as aulas sem estar dentro do vidro. 

Engraçado é que o Firuli desenhava melhor que qualquer um, o Firuli respondia perguntas mais depressa que os outros, o Firuli era muito muito mais engraçado... 

Os professores não gostavam nada disso...

Afinal, o Firuli podia ser um mau exemplo pra nós... 

Nós morríamos de inveja dele, que ficava no bem bom, de pernas esticadas, quando queria ele espreguiçava, e até meio que gozava a cara da gente que vivia preso. 

Então um dia um menino da minha classe falou que também não ia entrar no vidro.  

Dona Demência ficou furiosa, deu um coque nele e ele acabou tendo que se meter no vidro, como qualquer um. 

Mas no dia seguinte duas meninas que não iam entrar no vidro também: 

-Se Firuli pode porque é que nós não podemos? 

Mas dona Demência não era sopa. Deu um coque em cada uma, e lá se fórum elas, cada um pro seu vidro... 

Já no outro dia a coisa tinha engrossado. 

Já tinha oito meninos que não queriam saber de entrar nos vidros. 

Dona Demência perdeu a paciência e mandou chamar seu Hermenegildo que era o diretor lá da escola. 

Hermenegildo chegou muito desconfiado:

Aposto que essa rebelião foi fomentada pelo Firuli. É um perigo esse tipo de gente aqui na escola. Um perigo! 

A gente não sabia o que queria dizer fomentada, mais entendeu muito bem que ele estava falando mal do Firuli. 

Seu Hermenegildo não conversou mais. Começou pegar os meninos um por um e enfiar á força dentro dos vidros. 

Mas nós estávamos loucos para sair também, e para cada um que ele conseguia enfiar dentro do vidro, já tinha dois fora. 

E todo mundo começou a correr do seu Hermenegildo, que era para ele não pegar a gente, e na correria começamos a derrubar os vidros. 

E todo mundo começou a correr do seu Hermenegildo, que era pra ele não pegar a gente, e na correria começamos a derrubar os vidros. 

E quebramos um vidro, depois quebramos outro mais e dona Demência já estava na janela gritando. 

_SOCORRO! VÂNDALOS! BÁRBAROS! 

(Para ela bárbaro era xingação). 

Chamem os Bombeiros, o Exército da Salvação, a Polícia Feminina... 

Os professores das outras classes mudaram cada um, um aluno para ver o que estava acontecendo. 

E quando os alunos voltaram e contaram a farra que estava na 6° série todo mundo ficou assanhado e começou a sair dos vidros. 

Na pressa de sair começaram a esbarrar uns outros e os vidros começaram a cair e a quebrar. 

Foi um custo botar ordem na escola e o diretor achou melhor mandar todo mundo pra casa, que era pensar num castigo bem grande, pro dia seguinte. 

Então eles descobriram que a maior parte dos vidros estava quebrada e que ia ficar muito caro comprar aquela vidraria toda de novo. 

Então diante disso seu Hermenegildo pensou um bocadinho, e começou a contar pra todo mundo que em outros lugares tinha umas escolas que não usavam vidro nem nada, e que dava bem certo, as crianças gostavam muito mais. 

E que de agora em diante ia ser assim: nada de vidro, cada um podia se esticar um bocadinho, não precisava ficar duro nem nada, e que a escola agora ia se chamar Escola Experimental. 

Dona Demência, que apesar do nome não era louca nem nada, ainda disse timidamente:

_Mas seu Hermenegildo, Escola Experimental não é bem isso....

Seu Hermenegildo não se perturbou:

_Não tem importância a gente começa experimentando isso. Depois a gente experimenta outras coisas...

E foi assim que na minha terra começaram a aparecer as Escolas Experimentais. 

Depois aconteceram muitas coisas, que um dia eu ainda vou contar. 

 

Referências

ROCHA. Ruth. Quando a Escola é de Vidro. Salamandra, 2012.





 


   



segunda-feira, 10 de agosto de 2020

Inclusão na Educação Infantil




A escola tem que ser um espaço democrático e independentemente das diferenças individuais, a educação é direito de todos, e a escola deve está aberta e preparada para lidar com a diversidade de cada aluno. A Educação Infantil, fase inicial da formação, é onde as crianças têm o primeiro contato com o campo cheio de aprendizagens e novas descobertas, e a inclusão nesse período é de extrema importância, porque surgem obstáculos que a criança terá ao dar início ao processo de socialização, sendo ainda, importante ressaltar que esse momento é um dos primeiros em que o pequeno estará distante dos olhares de sua família.

Trabalhar a Inclusão na Educação Infantil é fundamental para que a criança se adapte ao universo escolar para assim dar sequenciação aos seus estudos no Ensino Fundamental sem sofrer tanta dificuldade. Por isso, o corpo escolar, gestores educadores e toda equipe Pedagógica devem está empenhado e preparados para focar nas atividades inclusivas, dando o suporte necessário para as crianças que precisam. 

Vale destacar também que todos que tem qualquer necessidade educacional especial devem ter acesso à escola regular. Segundo a Declaração de Salamanca "o princípio fundamental da escola inclusiva é de que todas as crianças deveriam aprender juntas, independentemente de quaisquer dificuldades ou diferenças que possam ter" dessa forma é notório que todo e qualquer cidadão tenha o direito à frequentar uma instituição escolar, por isso o debate sobre a inclusão desde a educação Infantil vem se fortalecendo muito nos últimos anos.




Durante muito tempo, a educação inclusiva era realizada por instituições de ensino especializado nesta área. Atualmente muitas escolas estão investindo em práticas de inclusão para que todas as crianças aprendam e se desenvolvam no mesmo ambiente, mais respeitando o tempo, as necessidades e potencialidades de cada um. Nesta proposta, a instituição se compromete a oferecer práticas diárias nos quais os alunos de Educação Infantil possam preservar o respeito, a cidadania, o cuidar de si e do outro, aceitação, o companheirismo entre outros valores necessários para se formar um cidadão com senso de justiça, éticos e que acima de tudo respeitem as diversidades.

Para a criança com necessidades especiais participem de um processo de inclusão é fundamental para que ela tenha acesso a técnicas Pluridisciplinares, que contribuem no desenvolvimento da linguagem, das competências e das capacidades motoras, cognitivas e emocionais que são essenciais para sua formação.

Esse acompanhamento exige muito preparo e conhecimento dos gestores e professores, porque a inclusão é uma etapa complexa e repleta de desafios, sendo essencial para as crianças terem esse estímulo desde a Educação Infantil. 

 A inclusão na educação é uma ação social e cidadã muito fundamental, pois colabora diretamente para as crianças com deficiência e também promove um aprendizado para todos os alunos, que é o respeito ao outro de uma forma totalizadora. 




É importante trabalhar a Inclusão na Educação Infantil, através de um planejamento pedagógico com os gestores, os professores e todos os membros da equipe pedagógica, com o objetivo de reformular um plano de atendimento educacional para todos os alunos promovendo a integração, assim como considerar o ritmo e as peculiaridades de cada educando, assim teremos a inclusão.

 A integração é a palavra-chave para a inclusão na Educação Infantil, e nada melhor que atividades para colocarem os alunos em movimento, sendo por meio de músicas e cantigas populares e atividades que melhore a socialização. Essa atividades contribui para o desenvolvimento e para a formação dos mesmos.

 Então é fundamental que se tenha a inclusão para que haja uma valorização humana, assim elas saberão desde os primeiros anos de vida sobre os direitos humanos. 


Referências:

SophiA Educação Infantil. Educação Infantil: como trabalhar a inclusão na escola. Em Blog. 17 de Janeiro de 2019 - 12h30/ atualizada em 30 de janeiro de 2019 - 15h45. Disponível em: <https://www.sophia.com.br/blog/educacao-infantil-como-trabalhar-a-inclusão-na-escola> . Acesso em: 10/08/2020.